Febre Oropouche - O que é preciso saber
São Paulo, 2 de agosto de 2024.
Mais uma vez estamos diante a possibilidade de uma doença transmitida por insetos se disseminar no país e afetar a população. Trata-se da Febre Oropouche (FO). Como é doença pouco conhecida pelos médicos do estado de São Paulo e existe a possibilidade de transmissão vertical, a SOGESP produziu este documento como um alerta aos profissionais de saúde, especialmente os ginecologistas e obstetras.
A FO é uma doença causada por um arbovírus, o Orthobunyavirus oropoucheense (OROV) que assim como as outras arboviroses é um vírus transmitido por um mosquito, o Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora, que se prolifera em lugares úmidos e em materiais orgânicos como plantações e materiais em decomposição.
O OROV foi isolado pela primeira vez em 1960 a partir da amostra de sangue de um bicho-preguiça capturado durante a construção da rodovia Belém-Brasília. A região amazônica, é considerada área endêmica, concentrando 78% dos casos notificados no país. Entretanto, a partir de 2023, a detecção de casos de FO no país vem aumentando e a doença já foi identificada em diversos estados brasileiros. No ano de 2024, até este momento, foram registrados 7.236 casos de FO em 20 estados brasileiros e a transmissão autóctone foi documentada em nove estados não amazônicos. Em 01/08/24 foram registrados os dois primeiros casos no Estado de São Paulo.
O período de incubação em humanos pode variar entre 3 e 8 dias após a picada do vetor. Os sintomas da FO são semelhantes aos da Dengue e da Chikungunya: febre de início súbito, cefaleia, mialgia e artralgia. Outros sintomas como tontura, dor retro-ocular, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados. Os sintomas duram cerca de 2 a 7 dias, sendo que a maioria das pessoas têm evolução benigna e sem sequelas, mesmo nos casos mais graves. Destaca-se que até 60% dos pacientes podem apresentar recorrência dos sintomas, com manifestação dos mesmos sintomas ou apenas febre, cefaleia e mialgia após 1 a 2 semanas das manifestações iniciais.
O diagnóstico é clínico, epidemiológico e laboratorial. Para investigar a carga genética do vírus, deve-se solicitar o exame RT-PCR nos primeiros cinco dias de sintomas dos pacientes, quando há maior carga viral.
Não existe tratamento específico. Os pacientes devem permanecer em repouso, com tratamento sintomático e acompanhamento médico.
Uma das medidas para o combate à doença seria o controle vetorial por meio da identificação e eliminação dos locais de reprodução e repouso dos insetos, como incentivar boas práticas agrícolas para evitar o acúmulo de resíduos que funcionem como locais de reprodução, preenchimento ou drenagem de poças, lagoas ou locais de alagamento temporário que possam servir como locais de oviposição para fêmeas e criadouros de larvas de vetores e a eliminação da vegetação rasteira ao redor de construções para reduzir os locais de repouso e abrigo de vetores.
Por ser transmitida por meio de um mosquito assim como as demais arboviroses, o uso do repelente é a principal forma de prevenção da FO, devendo ser usado nos indivíduos que estão com a doença para prevenção a fim de impedir a contaminação do mosquito e disseminação da doença e pelos não doentes para evitar serem contaminados.
Obviamente na população de gestantes, o manejo adequado para prevenção com uso de repelentes como DEET e icaridina assim como o manejo no caso de infecção é particularmente importante. Além disto, precisamos orientar as gestantes a usarem roupas compridas e usar telas em janelas e portas. O Ministério da Saúde do Brasil alertou que existem seis casos descritos de transmissão vertical em investigação. Dois destes casos evoluíram para óbito fetal, um caso para aborto espontâneo e três casos apresentaram anomalias congênitas com presença de microcefalia. Até o momento sabe-se que existe a transmissão vertical, mas a associação causal entre a FO e casos de malformação ou aborto ainda não foi comprovada. As gestantes com diagnóstico de arboviroses, especificamente com FO devem ser acompanhadas com suporte clínico semelhante ao manejo recomendado para a dengue (Leia aqui).
Evitar a doença ainda é a melhor forma de proteção!
Rosiane Mattar
Silvana Maria Quintana
Vera Therezinha Medeiros Borges