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#BlogRevistaMulher - Desejo Sexual Hipoativo: como ajudar as pacientes?

Desejo Sexual Hipoativo: como ajudar as pacientes?
Autor: Dr. Sergio Henrique Pires Okano
Médico Colaborador do Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humana do HC FMRP-USP e Professor na Universidade de Ribeirão Preto
Edição 15

A síndrome do Desejo Sexual Hipoativo (DSH) é caracterizada por uma condição em que a libido da mulher fica baixa, causando falta de interesse e desejo sexual. Pesquisas mostram que a situação não é tão incomum: no Brasil, cerca de 35% das mulheres apontam não sentirem falta ou vontade de manter relações sexuais.
Entende-se que não há uma causa específica para o transtorno. Pelo contrário, ele pode ser desencadeado por diversos fatores, tanto físicos, hormonais quanto psicológicos.
De acordo com o Dr. Sergio Henrique Pires Okano, Médico Colaborador do Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humana do HC FMRP-USP e Professor na Universidade de Ribeirão Preto, o DSH é uma condição crônica que pode acabar, inclusive, causando sofrimento para a paciente. Por isso, é muito importante que os ginecologistas-obstetras estejam atentos aos possíveis tratamentos e métodos de diagnóstico ao encontrarem casos semelhantes em seus consultórios. A perda do desejo sexual, inclusive na pós-menopausa, não deve ser naturalizada.
Hoje, existem diferentes formas de investigar e tratar essa condição.

Quais são as principais causas patológicas a serem investigadas?
O primeiro ponto quando se identifica o desejo sexual hipoativo, é entender em que momento e porque houve um comprometimento dessa função. O DSH pode ser secundário a diversas condições de origem orgânica e psicogênica. Embora na prática da ginecologia sejam mais
familiares as questões de origem orgânica, diversos fatores socioculturais e psicológicos podem influenciar essa resposta.
Entre as principais causas orgânicas que se associam ao desejo sexual encontram-se as endocrinopatias (como o hipotireoidismo e a hiperprolactinemia), o uso de medicamentos que reduzem a atividade dopaminérgica ou estimulam a atividade serotoninérgica no sistema nervoso central (ansiolíticos e antidepressivos), em situações nas quais a síntese dos esteroides sexuais possa estar prejudicada (como na menopausa e uso de anticoncepcionais) e na presença de doenças crônicas (por exemplo, diabetes).
Além das possíveis causas físicas e hormonais, a abordagem da qualidade do relacionamento, sintomas depressivos, baixa autoestima, história de violência sexual e investigação de possível disfunção sexual no parceiro também podem ser instrumentos para identificar possíveis
necessidades de encaminhamento a outros profissionais e programação da terapêutica.

Quais medicamentos podem atrapalhar o desejo sexual e devem ser analisados na anamnese?
Todo medicamento que possa reduzir a produção ou a ação dos esteroides sexuais, aumentar a expressão da serotonina ou atividade opioide no sistema nervoso central pode afetar a resposta sexual.
Na prática ginecológica, sobretudo, o uso de contraceptivos. Qualquer contraceptivo anovulatório irá reduzir a produção de estrogênio e testosterona endógena. Os contraceptivos hormonais combinados ocasionam a diminuição da biodisponibilidade da testosterona devido ao aumento da globulina ligante dos hormônios sexuais. No geral, eles não afetam diretamente a função sexual, mas podem reduzir o desejo.
Vale ressaltar que nem toda usuária de contracepção vai ter efeitos negativos sobre a resposta sexual. Sentir-se segura quanto à possibilidade de engravidar e controlar sangramento e acne podem ser condições que afetem positivamente a resposta sexual.Outro conjunto de medicações que deve ser avaliado é o das terapias utilizadas no tratamento do câncer. O uso de moduladores seletivos do receptor de estrogênio e análogos do GnRH podem afetar negativamente o desejo da paciente.
Em mulheres com ansiedade e depressão, sempre investigar qual ansiolítico ou antidepressivo está sendo utilizado. Inibidores da recaptação de serotonina favorecem a disfunção do desejo sexual. O uso de medicações como a digoxina, espironolactona e cimetidina, por terem um efeito antiandrogênico, também podem atrapalhar a função.

Em que casos indicar a reposição hormonal?
Existem duas formas de melhorar o desejo sexual através do uso de hormônios sexuais: uma delas envolve o tratamento hormonal do climatério com estrogênio, quando identificamos que esse marco na vida da paciente é o responsável pela deflagração das queixas sexuais; outra é por meio da prescrição da testosterona, nos casos em que o diagnóstico acontece na peri ou pós- menopausa e a depleção hormonal leva à diminuição do desejo sexual dessa paciente.
O objetivo é manter a mulher em níveis hormonais fisiológicos. A prescrição da testosterona para o desejo sexual hipoativo é eficaz, segura e com poucos efeitos colaterais em mulheres na pós-menopausa, quando realizada dentro das concentrações fisiológicas. Os androgênios, assim como em homens, têm função importante na vida sexual das mulheres. No Sistema Nervoso Central (SNC), favorecem a modulação positiva da resposta sexual feminina, enquanto, perifericamente, facilitam o relaxamento da musculatura vaginal.

Há outros medicamentos que ajudam nesse processo?
Fora do país existem a flibanserina e o bremelanotide, que prometem a melhora do desejo sexual em mulheres. Já no Brasil, não existem medicações desenvolvidas especificamente para esse fim.
A identificação dos fatores não hormonais pode sugerir outras terapêuticas para melhora do interesse sexual. Pacientes com depressão, que apresentam uma redução geral das funções, podem apresentar DSH. O tratamento do quadro depressivo com ansiolíticos é necessário e pode trazer melhoria inclusive à falta de desejo sexual.
Importante se atentar, entretanto, que, ao prescrever essas medicações, o ideal é optar por aquelas que causam menos danos à função sexual ou, eventualmente, associá-las (ou até substituí-las) por outras que possam ter um efeito positivo sobre os receptores de dopamina e
noradrenalina, como bupropiona e buspirona.
Pacientes com dano neurovascular na pelve secundário a traumas ou a doenças crônicas podem se beneficiar do uso de inibidores da 5 fosfodiesterase, a fim de melhorar a ação do óxido nítrico promovendo vasodilatação pélvica, ajudando assim na excitação e, eventualmente, no desejo reativo.

Existem terapias alternativas para o tratamento? Quais?
A literatura acerca das terapias sexuais (autofocagem, foco sensorial I e II) como terapêutica exclusiva sobre o desejo sexual carece de boas evidências, embora sejam amplamente utilizadas na prática clínica do sexologista. A prática regular de atividade física parece ter um efeito positivo sobre o desejo e excitação em pacientes com depressão em uso de ansiolíticos. Psicoterapia tem seu valor nos casos em que é identificado bloqueio psicológico, violência sexual, baixa autoestima, e em situações de inadequação ou conflito com a parceria. Estudos com terapia cognitivo comportamental e mindfulness demonstram ter resultados satisfatórios sobre o desejo sexual.

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